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Testando a Magalu Cloud: Como Foi Usar uma Cloud 100% Brasileira

Neste artigo, vou compartilhar minha experiência utilizando a Magalu Cloud, o provedor de nuvem da varejista Magazine Luiza, lançado em 2024. Conseguimos acesso à plataforma em maio do mesmo ano e, após mais de um ano de uso, chegou a hora de contar o que achamos: o que funcionou bem, o que melhorou com o tempo, o que ainda pode evoluir — e, principalmente, se a nuvem que promete ser a melhor provedora 100% brasileira realmente cumpre o que promete.

Visão Geral

Desde o início, a Magalu Cloud se posiciona como um provedor 100% nacional, com data centers em duas regiões do Brasil: uma no Sudeste, mais especificamente em São Paulo, e outra no Nordeste, em Fortaleza. Um dos principais pontos de venda da plataforma é a facilidade de uso e o fato de ser um serviço cobrado totalmente em moeda nacional — o que elimina surpresas com variações cambiais durante a operação e o faturamento.

Serviços Disponíveis

A Magalu Cloud oferece atualmente um conjunto de serviços básicos, mas suficientes para quem precisa de infraestrutura em nuvem. Entre os principais serviços disponíveis, destacam-se:

  • Object Storage: uma forma simples de armazenar e distribuir arquivos, com compatibilidade com o padrão S3. O serviço conta com dois níveis de uso e preços diferentes, permitindo otimizar custos conforme a necessidade de acesso aos dados.
  • Container Registry: repositório privado para armazenar e gerenciar imagens de contêineres, integrado ao ecossistema da nuvem.
  • Virtual Machines: provisionamento de máquinas virtuais com diferentes perfis de CPU, memória e disco.
  • Kubernetes: serviço gerenciado de orquestração de contêineres, facilitando o deploy e o escalonamento de aplicações modernas.
  • Database as a Service: oferta de bancos de dados gerenciados, incluindo suporte a Mysql.

A Magalu Cloud oferece três formas principais para gerenciar seus recursos: via console web, via API utilizando CLI, e através de Infraestrutura como Código (IaC) usando Terraform. Mais adiante, neste artigo, vou detalhar como foi minha experiência com cada uma dessas abordagens.

Experiência de Uso

Durante minha experiência, utilizei principalmente os serviços de Máquinas Virtuais, Object Storage, Kubernetes e Container Registry. No entanto, neste artigo, vou focar exclusivamente no uso de Máquinas Virtuais. Ou seja, minha análise não reflete o uso completo de todos os serviços disponíveis na plataforma.

De forma geral, priorizei o gerenciamento das VMs pelo console web e por Infraestrutura como Código (IaC) usando Terraform. Recorri à CLI apenas em casos onde a interface web ou o Terraform não ofereciam suporte para certas ações.

Como é usar e provisionar VMs

Logo no início da minha jornada, meu primeiro teste foi provisionar uma infraestrutura para hospedar o blog Code in Loop. Inicialmente, criei duas máquinas: uma com o firewall totalmente fechado para acesso externo, onde rodariam o Redis e o MariaDB — essa VM aceitava conexões apenas da segunda máquina. Já a segunda VM também estava fechada para a web, com exceção das portas 80 e 443, que foram liberadas exclusivamente para o range de IPs do Cloudflare.

Provisionamento de VMs: Primeiros Testes

Criar VMs pelo console foi uma tarefa simples. O processo exige apenas a escolha da zona, imagem do sistema operacional, flavor da máquina e, por fim, a configuração da chave SSH e do hostname. A variedade de configurações impressiona, com opções que vão desde instâncias básicas até máquinas com 512 GB de RAM e 64 vCPUs — veja todos os tipos disponíveis na documentação oficial.

Um ponto de atenção: o gerenciamento de chaves SSH pelo console ainda é limitado — não é possível visualizar, editar ou remover chaves diretamente pela interface, sendo necessário utilizar o CLI para essas tarefas.

Outro detalhe importante é que, embora exista uma boa variedade de imagens padrão, o envio de imagens personalizadas só pode ser feito via suporte, já que o console ainda não oferece essa funcionalidade.

E como foi a experiência usando as VMs?

Considerando que se trata de um provedor novo no mercado, a estabilidade foi surpreendentemente boa. Durante meu período de uso, tive um excelente uptime e não enfrentei indisponibilidades.

No entanto, alguns pontos deixaram a desejar. Todo o acesso à VM é feito via SSH, o que significa que não há console web ou qualquer ferramenta integrada que auxilie na redefinição de senha ou em situações emergenciais de acesso.

Além disso, senti falta de um sistema automatizado de backups. Não há como configurar backups diários ou semanais diretamente. A única alternativa disponível atualmente é o uso de snapshots manuais, que além de exigirem intervenção humana, são cobrados à parte.

Apesar dessas limitações, é possível realizar tarefas pontuais diretamente pelo console, o que ajuda a manter a operação minimamente prática.

Grupo de Segurança: Uma Experiência que Convida ao Uso de IaC

Como mencionei anteriormente, precisávamos restringir o acesso às portas 80 e 443 apenas para o range de IPs do Cloudflare. Foi nesse momento que percebi que a tarefa não seria nada simples se feita apenas pelo console: seriam necessárias 92 regras de entrada, e a interface atual não permite ações em massa. Ou seja, não há como adicionar, editar ou remover várias regras de uma só vez — tudo precisa ser feito individualmente, o que é extremamente improdutivo.

Esse cenário deixou claro que, embora o console atenda bem para casos simples, para configurações mais complexas ou repetitivas, o uso de IaC com Terraform é praticamente obrigatório.

Por outro lado, há pontos positivos. A plataforma permite criar grupos de segurança reutilizáveis, que podem ser aplicados a múltiplas máquinas. Isso facilita a padronização das regras e evita duplicação de configurações em ambientes maiores.

💡 Quer ver um exemplo prático de como criar essa infraestrutura usando Terraform na Magalu Cloud?
Deixe um comentário que posso preparar um guia completo mostrando como fiz isso no meu ambiente.

Benchmark: Performance Real da VM na Magalu Cloud

Para avaliar a performance real das VMs da Magalu Cloud, rodamos o script Yet Another Bench Script (YABS). A VM utilizada possuía 2 vCPUs e 4 GB de RAM, rodando Ubuntu 24.04 em uma infraestrutura virtualizada via KVM.

🔧 Disco (fio – 50% leitura / 50% escrita)

  • Leitura/Escrita 4k: 626 MB/s (156k IOPS)
  • Leitura/Escrita 512k: 3.81 GB/s
  • Leitura/Escrita 1MB: 3.74 GB/s

Os resultados de disco são muito bons, mostrando que o storage utilizado (provavelmente NVMe) tem baixa latência e alta vazão.

🌐 Rede (iperf3 para vários destinos)

  • Brasil (São Paulo): 9.3 Gbps de download e 6.1 Gbps de upload
  • Nova York: 1.46 Gbps (down) / 1.11 Gbps (up)
  • Londres: 961 Mbps (down)

O throughput de rede foi impressionante, especialmente nas conexões dentro do Brasil, o que é um diferencial importante para quem atende público nacional com baixa latência.

⚙️ CPU (Geekbench 6)

Preços, Cobrança e Surpresas na Fatura

Nesse aspecto, tive duas surpresas — uma na forma de cobrança e outra no custo em si.

Diferente de muitos outros provedores de cloud, a Magalu Cloud cobra com base na alocação dos recursos, e não no uso efetivo. Ou seja: mesmo que você desligue uma VM, ela continuará gerando custo enquanto estiver alocada.

❗ Para evitar surpresas na fatura, é necessário deletar o recurso — apenas desligá-lo não é suficiente.

O preço, por outro lado, foi uma grata surpresa. Durante mais de um ano hospedando o blog Code in Loop, utilizando:

  • 1 Instância com 1 vCPU, 1GB RAM, 10GB Disco
  • 1 Instância com 2 vCPU, 2GB RAM, 20GB Disco
  • E diversos testes ocasionais ao longo dos meses

A fatura ficou sempre na faixa dos R$ 100 mensais, valor altamente competitivo considerando a estabilidade e performance oferecida.

Suporte e Atendimento

Durante esse ano usando a Magalu Cloud, precisei acionar o suporte em diversos momentos, especialmente para dúvidas pontuais, ajustes via backend e esclarecimentos sobre limitações da interface.

O que mais chamou atenção foi a agilidade na primeira resposta. Mesmo em chamados abertos durante a madrugada (ex: 03:29 da manhã), a equipe respondeu em menos de 20 minutos. Em geral, os chamados foram respondidos dentro de 30 minutos a 1 hora, com tempo total de resolução variando de algumas horas até, no máximo, um dia útil, dependendo da complexidade.

Documentação e Ferramentas

Como mencionado anteriormente, a Magalu Cloud atualmente oferece suporte a três formas de integração:

  1. Infraestrutura como Código (IaC) com Terraform — a documentação disponível no site registry da HashiCorp é boa, e inclusive pretendemos escrever um artigo completo criando um projeto utilizando essa abordagem;
  2. Interface de linha de comando (CLI) — é aqui que percebemos um desalinhamento entre as formas de integração, pois algumas ações só podem ser realizadas via CLI.
  3. Documentação geral — embora venha evoluindo, ainda sentimos falta de mais exemplos práticos e cenários reais para facilitar o uso.

Vale a Pena? Conclusão

Depois de mais de um ano utilizando a Magalu Cloud em produção e testes, posso dizer que a experiência foi, de forma geral, positiva e surpreendente.

Apesar de alguns pontos que podem ser melhorados — como suporte a imagens personalizadas e gestão de recursos como chaves SSH no console — a plataforma compensa com:

  • Boa performance
  • Excelente conectividade nacional
  • Suporte rápido e eficiente
  • Preços acessíveis e cobrança em reais
  • Compatibilidade com Terraform

O modelo de cobrança por alocação de recursos exige atenção extra na hora de desligar serviços, mas não chega a ser um problema quando bem compreendido.

No geral, recomendamos a Magalu Cloud como provedor de nuvem. Se você quiser ver mais artigos relacionados, não deixe de comentar e compartilhar sua opinião!

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